Projeto Mejuruá celebra regularização fundiária para 95 famílias

No Auditório Municipal de Carauari, o que se viu foi muito mais do que uma cerimônia institucional. O espaço da cidade, no interior do Amazonas, foi tomado por um momento de transformação concreta na vida de dezenas de famílias da região de Carauari. Reunidas, elas celebraram um marco coletivo: a oficialização de sua permanência em uma terra que agora oferece condições reais de subsistência e dignidade. Parte dessas famílias vinha de uma vida de constante deslocamento entre áreas da floresta e centros urbanos próximos; outras haviam abandonado a região, migrando para a cidade em busca de oportunidades que nunca chegaram e acabaram engrossando os índices de pobreza. Agora, com a delimitação oficial de suas glebas, esses moradores passam a contar com a segurança de um espaço próprio para plantar, pescar e desenvolver atividades extrativistas.

Além da entrega da terra pela BR Arbo como espaço de subsistência, o Projeto Mejuruá também viabilizou o desenvolvimento de atividades extrativistas em uma área de uso coletivo, com o objetivo de recuperar conhecimentos e práticas que vinham se perdendo ao longo dos anos, tanto pela vida nômade quanto pela permanência nas áreas urbanas.

Desde sua concepção, o Projeto Mejuruá previu a criação dos chamados “Anjos da Floresta”, uma iniciativa voltada a promover a fixação das famílias na terra, oferecendo condições concretas de dignidade para esses moradores — tanto os que retornam quanto os que ali permanecem. A proposta é ocupar as margens dos rios, justamente as zonas mais vulneráveis ao avanço do desmatamento.

Nenhuma cidade do Médio Juruá possui acesso terrestre. O deslocamento só é possível por via fluvial e, no caso específico de Carauari, também por transporte aéreo. Essa limitação geográfica faz com que o avanço do desmatamento na região ocorra, quase exclusivamente, pelas margens dos rios.

Por isso, o Projeto Mejuruá definiu como estratégia a fixação das famílias nessas áreas de vulnerabilidade ambiental, promovendo a concessão de propriedade individual para os espaços de uso doméstico e produtivo, como casas e roças, além da destinação de áreas coletivas para a atividade extrativista. Tudo isso vem acompanhado de infraestrutura básica: acesso à água potável, energia elétrica e conexão com a internet.

Essa política de fixação territorial vem acompanhada da implantação de infraestrutura básica, garantindo acesso à água potável, energia elétrica e conexão à internet, com o objetivo de assegurar melhores condições de vida e fortalecer o protagonismo desses moradores na proteção ambiental.

A partir de agora, os moradores contarão com acesso à internet não apenas para uso pessoal, mas também como uma ferramenta de apoio ao monitoramento ambiental e à denúncia de eventuais crimes contra a floresta, tornando-se aliados ativos na proteção do território.

“Antes, a gente não tinha prova de que tinha terra, não podia fazer nada, plantar, vender, nada. As terras eram da empresa e, agora, me sinto muito feliz com esse documento na mão. Quero que o projeto continue, a proposta é boa, colocando luz, energia e água pra gente. Que ele (o projeto) nos traga mais oportunidades de ter uma vida melhor”, diz o senhor Edmilson Vale dos Santos, um dos beneficiados pelo projeto.

Essa conquista nasce da escuta e do diálogo. Desde 2023, quando as primeiras reuniões foram realizadas entre a equipe da BR Arbo — gestora do Projeto Mejuruá —, a Associação de Moradores do Baixo Riozinho (ASMOBRI) e os próprios moradores, ficou claro que o desafio ia muito além de um processo burocrático de regularização fundiária. O que estava em jogo era a oportunidade de proporcionar às famílias a chance real de se fixar na terra, deixar para trás a instabilidade da vida urbana e retomar práticas de produção e convivência que, aos poucos, vinham se perdendo.

Cada assinatura nos termos de regularização é resultado de um trabalho minucioso e centrado nas pessoas. Os técnicos do projeto, em parceria com as lideranças da ASMOBRI, visitaram cada propriedade, dialogaram com os interessados, escutaram, compreenderam as dinâmicas locais e respeitaram a forma de vida e a visão de mundo dos cidadãos de Carauari.

Em 2024, essa relação de confiança foi consolidada com a assinatura do Contrato de Parceria para Exploração Extrativista, instrumento que assegura não apenas o acesso sustentável aos recursos florestais, mas também segurança jurídica e proteção ambiental de longo prazo.

O que acontece no Riozinho dialoga com o caráter social do Projeto Mejuruá

Para o Projeto Mejuruá, a regularização fundiária é um dos caminhos mais eficazes para o enfrentamento do desmatamento ilegal, o fortalecimento das economias locais e a redução de conflitos agrários.

O que aconteceu no Riozinho representa um modelo baseado na reconstrução territorial por meio da reinstalação e fixação das famílias, com uma lógica que valoriza a relação direta das pessoas com a floresta. Uma relação construída não apenas pelo contato presente, mas também por vínculos familiares e culturais com a região, que agora se fortalecem com a segurança da posse e o estímulo à proteção ambiental.